segunda-feira, 14 de julho de 2014

quarta-feira, 2 de julho de 2014

[ARTIGOS] A HISTÓRIA DE UM DOBRADO

“SAUDADE DE MINHA TERRA” foi composto por oficial em homenagem a SÃO GABRIEL.
OSÓRIO SANTANA FIGUEIREDO (Transcrito de “ZERO HORA”).

No dia 27 de agosto de 1893, travou-se o combate de Cerro do Ouro, em são Gabriel. As tropas governistas comandadas pelo general Francisco Portugal, dirigidas por Gumercindo Saraiva. Os castilistas foram destroçados deste local do combate até a margem do Rio Vacaí, a beira da cidade de são Gabriel, num percurso de mais de 40 quilômetros.
Todavia, de tudo que se tem escrito desse combate, raros são os que citam a Divisão do exército, aliada dos legalistas, comandada pelo general Antônio Joaquim Bacellar, que amanhecera acampada a uma légua do local, na estância de Cerro do Ouro, à retaguarda do ataque das forças federalistas. O general Bacellar resolveu ficar no acampamento, alegando fraqueza de sua cavalhada, estropiada e cansada, e a exaustão da tropa pelas marchas batidas. Mas o que ficou se sabendo, na época, é que o general não estava seguro da confiança de sua gente. Durante o Pipocar da fuzilaria e o rumor das cargas de cavalaria, que se precipitavam sobre o  inimigo em disparada, havia um movimento em nervosa inquietação no acampamento. Alguns oficiais e a maioria dos sargentos ostentavam lenços vermelhos no pescoço, demonstrando uma indisfarçável simpatia pela causa revolucionária.

Somente no outro dia o general Bacellar prosseguiu a marcha. A tarde do dia 28 entrava em São Gabriel, sob os acordes do mais recente dobrado militar, Saudade de minha terra, composto pelo maestro primeiro-sargento Luiz Evaristo Bastos, do 4º Batalhão de Infantaria, instalado no quartel do antigo Forte de Caxias, no município. Luiz Evaristo Bastos era gabrielense, filho de Leopoldo Bastos, casado com Maria Angélica Valle Bastos, de tradicional família local.
 Longe dos pagos, esse notável músico e compositor, judiado pelas saudades dos seu rincão, havia composto o lindo dobrado que tanta popularidade ganharia nas décadas seguintes .O Coronel Gabriel Menna Barreto, que descobriu a origem do Evaristo, escreveu:”A querência homenageada era, pois, a nossa querida São Gabriel. E o autor do dobrado, um gabrielense nato”.
 O saudoso João Pedro Nunes, fundador do Museu que leva seu nome, testemunha dos acontecimentos daquele dia, escreveu em páginas esparsas: “O general Bacellar, comandante de uma Divisão do Exército, chega a São Gabriel com sua tropa no dia 28 de agosto de 1893. Fazia parte dessa divisão o 4º Batalhão de Infantaria, estacionado em São Gabriel. A banda de música dessa corporação tinha fama, não só no Estado, mas em todo o país. Era excelente, e seu maestro, o primeiro-sargento Luiz Bastos, autor do famoso dobrado Saudade de Minha Terra, uma peça musical para jamais ser esquecida pelo povo brasileiro. Apesar do triste acontecimento da véspera (Combate do Cerro de Ouro), as três bandas de música, do 4º Batalhão de Infantaria, do 32º Batalhão de Infantaria e do 1º Regimento de Artilharia de campanha, realizaram esplêndida retreta em frente à Igreja Matriz (Igreja do Galo). Recordo-me perfeitamente do instrumental da banda do 4º de Infantaria que, devido as peripécias de campanha, estava na maioria amassado e recomendado com pedaços de pano. Mesmo assim, a excelente banda do 4º Batalhão venceu o glorioso torneio musical”.
 Escreveu ainda João Pedro Nunes que o sargento Bastos foi um dos contemplados pela chamada Panelada de Alferes do Presidente Floriano Peixoto, que de uma só vez promoveu mais de mil sargentos ao posto de tenente, a fim de conquistar a simpatia, tendo e vista que sua maioria demonstrava uma clara tendência em favor do lado revolucionário.
 O coronel Gabriel Menna Barrto, escrevendo sobre essa música, diz em certo trecho: “Todo militar antigo conhece a marcha Saudade de Minha Terra, que apareceu na alvorada da República. Na década de 20, os cadetes de Cavalaria da velha Escola Militar do Realengo cantavam-na: Soldados, a Cavalaria/ É a sentinela avançada / Da Pátria Mãe que em nós confia / Para viver eternamente respeitada!”
 Letra aposta ao dobrado “Saudades de minha terra”. É cantada pelas tropas de cavlaria, quando se deslocam a pé.

Soldados, a Cavalaria
 É a sentinela avançada
 Da Pátria Mãe que em nós confia
 Para viver eternamente respeitada
 Numa avançada
 A cavalhada
 Ousada e forte
 Não teme a morte
 Nossos corcéis
 Sabem que a glória
 Só se conquista com a vitória,
 E não revés.
 Por isso, quando na peleja
 A voz de carga se escutar
 Em nossas mãos bem firme esteja
 A heróica lança,
 Que a vitória há de nos dar.
 Nossa hostes sobranceiras
 Das ofensas estrangeiras
 Defendem sorrindo com júbilo infindo
 A excelsa Bandeira Brasileira.
 Nossos Esquadrões
 São como leões,
 Não conhecem perigo inimigo que os faça temer
 Nossos soldados
 São denodados
 Pela pátria sucumbem com prazer
 Hurra!

 Se no auge da batalha
 Rebentar uma metralha
 E ferido o cavalo querido tombar
 Mesmo assim nos redobremos
 E com denodo pelejemos
 Porque com a glória então
 Teremos de o vingar

 Avante ! Avante!
 Bravos ufanos
 Destemidos cavalarianos do exército audaz
 Que nas refregas
 Nas lutas cegas
 Só de feitos heróicos é capaz.  Hurra!

fonte: http://www.decavalaria.com/index.php/coisas-de-cavalaria/artigos/184-a-historia-de-um-dobrado